A.D.H.D

Juventude e apatia em "A.D.H.D" de Kendrick Lamar

Em "A.D.H.D", Kendrick Lamar usa o título como metáfora para a apatia e a busca constante por estímulos, refletindo o consumo excessivo de drogas entre jovens marcados pela epidemia do crack dos anos 1980. Trechos como “Eight doobies to the face, fuck that / Twelve bottles in the case, nigga, fuck that” mostram o exagero e a insensibilidade diante dos próprios limites, retratando uma geração que tenta preencher o vazio existencial com festas e substâncias, mas sem encontrar sentido real. O verso “Got a high tolerance when your age don't exist” (Você tem uma alta tolerância quando sua idade não existe) sugere uma juventude que se sente fora do tempo, sem perspectiva de futuro, o que alimenta a indiferença e comportamentos autodestrutivos.

A música vai além do tema das drogas, abordando a experiência de isolamento e falta de pertencimento, como Kendrick destaca em “You know, when you part of Section 80 / And you feel like no one can relate / Cause you are, you are, a loner, loner” (Você sabe, quando você faz parte da Section 80 / E sente que ninguém pode se identificar / Porque você é, você é, um solitário, solitário). A expressão “crack babies” aparece na letra e, segundo o próprio Kendrick, refere-se à geração nascida durante a epidemia de crack, marcada por negligência social e falta de perspectivas. O uso de drogas é apresentado tanto como sintoma quanto como tentativa de lidar com o tédio, a solidão e a ausência de propósito, como em “My generation sippin' cough syrup like it's water / Never no pancakes in the kitchen / Man, not one of our lives is caught up in the daily superstition that the world is 'bout to end / Who gives a fuck?” (Minha geração toma xarope para tosse como se fosse água / Nunca tem panquecas na cozinha / Cara, nenhuma das nossas vidas está presa à superstição diária de que o mundo vai acabar / Quem se importa?). Kendrick expõe o desinteresse coletivo e a fuga da realidade, reforçando o retrato de uma juventude que se automedica para suportar o peso do próprio tempo.