Wrong Turn

“Wrong Turn”: terror, desejo e submissão inevitável

Em Wrong Turn, Kim Petras encena um slasher em segunda pessoa que se confunde com confissão de desejo possessivo. A frase-título funciona como isca dupla: alerta de morte e justificativa de um amor que quer controlar. A voz soa predadora e sedutora, anulando saídas: “Never should’ve came alone / Never gonna make it home” (Nunca deveria ter vindo sozinho / Nunca vai conseguir voltar para casa) e “Go ahead and lock the door” (Vai em frente e tranca a porta). A promessa de proteção vira ameaça explícita: “It’s your final destination / Time to make a sacrifice” (É seu destino final / Hora de fazer um sacrifício). O vocabulário reforça o ritual sádico — “Fire, flames, blood, and bones” (Fogo, chamas, sangue e ossos), “Demons, devils, crucified” (Demônios, diabos, crucificados), “I am who you really fear” (Eu sou quem você realmente teme). As cenas podem ser literalmente de terror ou metáforas de um romance obsessivo que exige submissão e “sacrifícios”, com perda total de controle.

O contexto do álbum temático de Halloween TURN OFF THE LIGHT (2019) sustenta essa leitura. Petras adota estética de filmes de terror dos anos 80, com synths sombrios e vocais trêmulos que simulam perseguição. O título e o refrão ecoam a decisão fatal: “You took the wrong turn at the wrong time” (Você pegou o caminho errado na hora errada), além de possível aceno ao filme Wrong Turn (2003), em que um desvio leva a uma emboscada mortal. A repetição obsessiva do mantra “wrong turn” soa como sirene psicológica, fixando fatalidade e perigo, sem retorno — “Take a deep breath / Let it sink in / Now you realize” (Respira fundo / Deixa cair a ficha / Agora você percebe). Ao mesclar desejo e horror em linguagem de gênero — “You’re my bloody valentine” (Você é meu namorado sangrento) — a faixa mantém a tensão do início ao fim e se consolida como peça-chave do universo sombrio de Kim Petras.