Sem Hora

“Sem Hora”: liberdade, sexta e fuga do relógio social

“Sem Hora”, do Lagum, transforma o bordão “deixar pra depois” em regra de vida e faz do verso “sem hora” um manifesto contra o relógio social. A Sexta-Feira vira símbolo de liberdade coletiva, em contraste com a rotina controlada dos dias úteis. A letra recusa pressões da vida adulta e expectativas de produtividade: “Lazer é meu trabalho e eu trabalho com prazer” e “Não é hora de cobrar” defendem priorizar o presente e o bem-estar, sem culpa. O uso irônico de linguagem corporativa em “hoje tem reunião, mas não é no meu serviço” troca a pauta do trabalho pelo encontro com amigos, reforçando o choque entre obrigação e diversão. Até o provérbio é invertido: “eu deixo pra depois o que eu posso fazer agora”, assumindo o atraso voluntário como gesto de autonomia.

O narrador se mostra desapegado — “não sou de ninguém” — e não se molda ao olhar alheio, mesmo quando se autodefine, de brincadeira, como “meio vagabundo”. Ao dizer “sou o mocinho e não o bandido”, ele tenta se descolar do rótulo de irresponsável: a proposta não é negligência, é viver sem amarras. “Prefiro cem anos a mil do que mil anos a cem” valoriza intensidade e qualidade de experiência, não a longevidade burocrática. Já “tô saindo da cidade com você, uma senhora, sem hora” pode usar “uma senhora” como intensificador coloquial (“um baita”), não necessariamente sobre idade, acentuando o impulso de cair na estrada sem compromissos. No conjunto, o Lagum pinta um clima leve e hedonista, onde a liberdade de Sexta-Feira se estende até “só parar na Segunda-Feira”, celebrando o direito de não sincronizar com o “mundo” dos outros.