Same Time Tomorrow

Rotina e memória em “Same Time Tomorrow” de Laurie Anderson

Em “Same Time Tomorrow”, Laurie Anderson usa a imagem do relógio de videocassete piscando “doze horas” como um símbolo da rotina e da repetição automática do cotidiano. Esse detalhe, aparentemente simples, mostra como a vida pode entrar em um ciclo onde, apesar do tempo passar, pouca coisa realmente muda. A repetição da frase “Same time tomorrow” (“mesmo horário amanhã”) reforça essa ideia de estagnação, enquanto o tom irônico aparece quando Anderson admite nunca ter aprendido a ajustar o relógio, como se aceitasse a monotonia imposta pela tecnologia e pela vida moderna sem questionar.

A música também traz reflexões sobre o tempo e a memória. Anderson questiona se o tempo é “longo ou largo” e se as coisas estão melhorando ou piorando, mostrando dúvidas comuns sobre o sentido da passagem do tempo. Quando ela diz “And so when they say things like ‘We’re gonna do this by the book’, you have to ask ‘What book?’” (“E então, quando dizem coisas como ‘Vamos fazer isso conforme o manual’, você tem que perguntar ‘Que manual?’”), ela ironiza a ideia de regras universais, destacando que cada experiência é única. A lembrança do pai, comparada a uma biblioteca que se perde, valoriza as histórias pessoais e a importância da memória. Já a frase “burn this” (“queime isso”) sugere que algumas experiências são tão intensas que precisam ser destruídas depois de vividas. O experimentalismo de Anderson aparece na mistura de imagens surreais, como “wild beasts shall rest there” (“feras selvagens descansarão ali”) e “sirens in the temples of pleasure” (“sereias nos templos do prazer”), ampliando a sensação de que a vida é feita de ciclos, mistérios e repetições, sempre voltando ao mesmo ponto: “Same time tomorrow”.