A Mula Sem Cabeça

Folclore e mistério no sertão em “A Mula Sem Cabeça” de Lenine

A música “A Mula Sem Cabeça”, de Lenine, transforma a famosa lenda do folclore brasileiro em uma narrativa envolvente, misturando o sobrenatural ao cotidiano do sertão. Lenine utiliza elementos como a própria Mula Sem Cabeça e a “Maria Fumaça com olhos de fogo” para criar um clima de suspense, mostrando como o fantástico e o real se cruzam nos caminhos do interior. A referência à Maria Fumaça pode ser entendida tanto como a locomotiva – símbolo de progresso e, ao mesmo tempo, de assombro nas cidades do interior – quanto como uma metáfora para a criatura lendária, reforçando a atmosfera de mistério e ambiguidade.

A letra apresenta uma jornada noturna cheia de imagens marcantes, como “os cascos na calçada”, “o lago onde a sereia se banhou” e “corujas com seus olhos de luar”. Esses elementos evocam o imaginário popular e as tradições orais, conectando o ouvinte a um Brasil profundo, onde medo e curiosidade andam juntos. O percurso da personagem – seja a própria Mula Sem Cabeça, alguém que a persegue ou foge dela – é marcado por encontros com animais, fenômenos naturais e sons da noite, criando a sensação de uma travessia entre mundos. Versos como “tirei fagulhas nos lajedos” e “cruzei parede que se abriu” sugerem desafios e superações, como se a jornada fosse também um enfrentamento do desconhecido e dos próprios medos.

A repetição de “O céu, as estrelas ouviam meu fado” reforça a ideia de que essa travessia é observada por forças maiores, como se o destino fosse testemunhado pelo universo. Assim, Lenine não só revisita uma lenda, mas celebra a riqueza do folclore brasileiro e a capacidade de transformar o medo em poesia, misturando realidade e fantasia de forma acessível.