Só

Solidão e humor cotidiano em "Só" de Leo Jaime

Em "Só", Leo Jaime aborda a solidão de forma irônica e descontraída, questionando se estar sozinho foi realmente uma escolha ou apenas uma consequência da vida. A frase "Eu acho até que sou feliz" revela uma felicidade resignada, enquanto a expressão "colocar na geladeira o coração" brinca com a ideia de esfriar sentimentos e guardar emoções, mostrando o distanciamento afetivo de quem já não se envolve em paixões há muito tempo. O tom leve e sarcástico da música transforma a solidão em algo cotidiano, sem dramatização excessiva.

A regravação da música em 2021, durante a pandemia, trouxe um novo significado para a letra. O isolamento social vivido por muitos naquele período faz com que versos como "ficar em casa só e chapadão / olhando pela madrugada o Poltergeist da televisão" deixem de ser apenas uma crônica da solidão urbana dos anos 80 e passem a refletir uma experiência coletiva recente. A busca por companhia, expressa em "será que eu encontro alguém que vá matar a minha solidão", ganha ainda mais força diante do distanciamento social. Com leveza e humor, "Só" se mantém atual ao tratar de um tema universal, tornando a reflexão sobre estar sozinho acessível e honesta, sem cair no drama ou na autopiedade.