Ao Final Desse Dia (At The End Of The Day)

Desigualdade e exclusão social em “Ao Final Desse Dia”

“Ao Final Desse Dia (At The End Of The Day)”, do musical Les Misérables Brasil, retrata de forma direta a rotina exaustiva e desumana da classe trabalhadora francesa do século XIX. A música vai além de mostrar a luta pela sobrevivência: ela destaca a indiferença social e a opressão enfrentada pelos mais vulneráveis. Um ponto importante é como a letra revela a exclusão e o julgamento entre os próprios trabalhadores, especialmente no caso de Fantine. Ela é marginalizada e acusada pelas colegas por ser mãe solteira e pelas suspeitas sobre como sustenta a filha, mostrando que a pressão não vem só dos patrões, mas também dos próprios pobres, que buscam um culpado para suas dificuldades.

O contexto do musical reforça que a canção não fala apenas de pobreza, mas denuncia a falta de solidariedade e a perpetuação da miséria por estruturas sociais rígidas. Trechos como “Ninguém sabe, ninguém viu / Ninguém ouve as crianças chorando” e “A conta, quem vai pagar? / Quando o dia acabar” ilustram a invisibilidade e o abandono dos mais frágeis. O refrão, que retorna sempre ao final do dia, simboliza o ciclo repetitivo de trabalho e sofrimento, sem esperança de mudança. A introdução de Fantine, marcada por acusações e humilhações, prepara o público para sua trajetória trágica, mostrando como a sociedade empurra os mais vulneráveis para a margem, muitas vezes com a cumplicidade dos próprios oprimidos. Assim, a música constrói um retrato coletivo de sobrevivência, tensão e desesperança, onde cada personagem enfrenta não só a pobreza, mas também a desumanização diária.