Apenas 23

Desencanto e referências culturais em "Apenas 23" de LetoDie

Em "Apenas 23", LetoDie expõe sua recusa em adotar uma visão otimista ou salvadora da vida, preferindo encarar a realidade de forma crua e sem idealizações. Isso fica claro no verso “Eu tô no time do Bukowski, ignorei o Dalai Lama”, onde ele se alinha ao ceticismo do escritor Charles Bukowski e rejeita a espiritualidade representada pelo Dalai Lama. O contraste entre essas figuras destaca o conflito interno do artista diante das expectativas sociais e pessoais, mostrando sua escolha por um olhar desencantado sobre a existência.

O sentimento de isolamento e rebeldia é reforçado pelas referências a Ned Kelly, Allan Kardec e William Sidis. Ned Kelly simboliza a recusa em ser “um cara bom pro mundo”, enquanto Allan Kardec e o conceito de karma são usados para questionar crenças em recompensas ou punições espirituais. No trecho “Foda-se a outra vida, eu não sou Allan Kardec / Pique William Sidis vivendo só na ironia”, LetoDie se distancia de consolos espirituais e adota uma postura irônica diante da própria solidão. A menção a figuras como Sid Vicious, Chorão, Chester Bennington e Kurt Cobain, todos marcados por tragédias pessoais, reforça a identificação do artista com a luta contra seus próprios "demônios" e a sensação de que a morte está sempre próxima: “Morte é sombra nas minhas costas e ela sempre me persegue, mano”.

A sinceridade do desabafo aparece também na recusa de conselhos e cobranças externas, como em “Eu escrevo o que eu sinto e ultimamente tô cansado”. Mesmo com conquistas materiais, LetoDie revela que o vazio persiste, mostrando que dinheiro ou relacionamentos não aliviam o sofrimento. O tom confessional e direto da letra, aliado às múltiplas referências culturais, constrói um retrato honesto de um jovem adulto lidando com frustrações, solidão e a pressão das expectativas, sem buscar respostas fáceis ou finais redentores.