Abalos Sísmicos

Vulnerabilidade e resistência em "Abalos Sísmicos" de Letrux

"Abalos Sísmicos", de Letrux, aborda de forma direta a tensão entre a intensidade emocional da narradora e a indiferença das pessoas ao seu redor. Logo no início, versos como “Me abalo e me abalo muito / Nasci abalada um tanto enrolada” deixam claro que a vulnerabilidade é uma característica central da artista. Esse sentimento é reforçado pelo fato de Letrux ter gravado a faixa chorando, o que traz autenticidade e uma carga emocional forte à música. Expressões como “cara de espanto” e críticas a quem “mente que nem sente” ou “gargalha, dá teu showzinho na sala” evidenciam a frustração diante da superficialidade das relações e da dificuldade de encontrar reciprocidade emocional.

O tom confessional cresce quando a artista contrapõe sua entrega emocional à postura distante do outro: “Você não pediu desculpa / E seguiu sua vida achando tudo ok”. A letra mostra o desgaste de quem sente demais e não encontra acolhimento, enquanto o outro parece seguir sem se abalar. O trecho “Eu jurei que calma não me cala / Jurei que culpa não me move / Eu jurei e me lasquei” revela a tentativa de se proteger, mas também a inevitável exposição ao sofrimento. O contexto da pandemia, presente na produção do clipe e no sentimento de instabilidade coletiva, aparece em “Acordei bem mas o país não colabora / Nem você”, ampliando o sentido de abalo para o cenário social e político do Brasil. A repetição de “Me abalo e me abalo muito” funciona como um manifesto de autenticidade, alinhando-se à visão de Letrux sobre a importância de viver emoções intensamente, mesmo que isso traga dor. A música questiona a cultura da indiferença e valoriza a honestidade emocional como forma de resistência em tempos difíceis.