Ofício

Retrato urbano e familiar em “Ofício” de Leviano

Em “Ofício”, Leviano apresenta um relato direto sobre a realidade do tráfico e suas consequências. O verso repetido “Endola' o peso aumenta o preço” deixa clara a ligação do narrador com o universo das drogas, usando a gíria “endolar” para se referir ao ato de embalar entorpecentes. O aumento do preço simboliza o crescimento financeiro proporcionado por esse trabalho, mas também sugere o peso das escolhas feitas. No trecho “Hoje eu acordei mais rico / Eu não sei de onde isso veio / Só veio, eu nasci pro ofício”, o artista reforça a ideia de que o sucesso material surge quase como um destino inevitável, resultado do ambiente em que cresceu. Ele expressa uma aceitação resignada desse caminho, mencionando inclusive a mãe, a quem pede desculpas pelos sofrimentos causados, mostrando um lado humano e afetivo diante das dificuldades.

A música também destaca o contraste entre o desejo de paz e a necessidade de sobrevivência nas ruas. Em “Eu queria uma paz / Mas esses nego nunca querem ficar numa vibe / É a rua parceiro, ou fica ligeiro, ou fica pra trás”, Leviano evidencia a hostilidade do ambiente e a constante vigilância exigida. O contexto familiar e social aparece em versos como “Meu pai é louco eu nasci igual / Onde eu cresci, eu não cresci normal / Fugindo dos federais”, indicando como essas influências moldaram sua trajetória. Ao citar o amigo Luanzin e os perigos das esquinas, o artista alerta para os riscos do crime e demonstra preocupação com quem está começando nesse caminho. Com honestidade e um tom realista, “Ofício” retrata as escolhas difíceis, os sentimentos e os laços familiares de quem vive à margem da sociedade.