Jesus Negão

Racismo e identidade em "Jesus Negão" do Libera O Badaró

"Jesus Negão", do Libera O Badaró, utiliza humor ácido e sátira para abordar o racismo estrutural e os estereótipos presentes na sociedade brasileira. A música subverte a imagem tradicional de Jesus ao retratá-lo como um homem negro, "mano véio, cabelo black power", aproximando-o das figuras marginalizadas e celebrando sua identidade como "sangue bão". Essa escolha questiona padrões eurocêntricos e cria identificação direta com a população negra, sugerindo que a divindade e o heroísmo também pertencem a quem é historicamente excluído.

A letra é marcada por trocadilhos, estatísticas absurdas e referências culturais que ironizam a manipulação de dados e a superficialidade com que questões raciais são tratadas. Frases como “A cada 39% dos nêgo que nascem nessa cidade são pretos” e “80% dos nêgo preto morrem queimado nêgo” escancaram o uso irresponsável de números para mascarar problemas sérios. A lista de personalidades negras, misturada com figuras brancas e personagens fictícios como Darth Vader, mostra a onipresença da cultura negra e ironiza a forma como tudo é rotulado. O trecho “O melhor disco dos Beatles é o álbum branco / E o pior disco do Metallica é o álbum preto” brinca com a simbologia das cores, criticando associações simplistas entre cor e valor.

No geral, "Jesus Negão" é uma crítica social em tom descontraído, que usa exagero, ironia e nonsense para provocar reflexão sobre racismo, identidade e pertencimento. Ao transformar Jesus em um "mano" do cotidiano, a música desafia preconceitos e convida o ouvinte a repensar conceitos sobre raça e representatividade.