Mud On My Gucci

Ascensão e descontrole em “Mud On My Gucci”, de Lil Peep

O refrão “mud on my Gucci” (lama no meu Gucci) vira o luxo de cabeça para baixo: a grife aparece manchada por uma rotina fora de controle. Isso pesa ainda mais com o que se sabe pelo documentário Everybody’s Everything: Lil Peep vendeu a faixa (colab com OGB) para pagar o depósito de um apartamento em Skid Row, em Los Angeles. Por trás da ostentação, havia aperto e sobrevivência. A canção expõe a tensão entre ascensão e caos: drogas e direção em alta velocidade, dias da semana que se confundem, sexo casual, fãs oportunistas e uma postura de “agora é minha vez”, mais bravata do que estabilidade real.

A “lama” funciona em duas camadas: sujeira literal que mancha o item de luxo e, no código do rap, “mud” como referência ao lean/xarope. A repetição de “It’s mud on my Gucci” (tem lama no meu Gucci) martela a ideia de glamour sujo: ele ostenta, mas admite o preço e o descontrole. “I could make a movie” (eu poderia fazer um filme) é a hipérbole de quem vive cenas intensas; “don’t communicate” (não converso) marca o distanciamento de quem quer se aproveitar. A comparação entre o Hyundai dela e o i8 dele crava o contraste de status, enquanto o papo com “groupie” sinaliza relações superficiais, mais validação do momento do que afeto. No conjunto, “Mud On My Gucci” retrata uma ascensão rápida e barulhenta em LA, em que a vitória brilha, mas a mancha não sai.