Flor do grão Pará

“Flor do grão Pará”: orgulho paraense e alma amazônica

“Flor do grão Pará”, de Lucinha Bastos, é uma declaração de pertencimento a Belém e à Amazônia. O verso “Não baladeira, deixa voar” transforma a baladeira (estilingue) de instrumento de caça em gesto de proteção da fauna. Já “Vem ver-o-peso do meu cantar” brinca com o duplo sentido: cita o mercado Ver-o-Peso e o “peso” simbólico de uma canção que quer carregar a cidade na voz. A identidade surge explícita em “Sim, eu tenho a cara do Pará… Sou Amazônia”. A letra costura imagens sensoriais — “calor do carimbó”, uirapuru, “cheira-cheira do tacacá” — e as situa no “rio mar”, à beira da Baía do Guajará. O refrão “Belém, Belém” funciona como chamada afetiva, enquanto a feira e o Ver-o-Peso aparecem como ícones populares onde a vida pulsa e a identidade se reconhece.

Há um convite claro: “Rosa flor, vem plantar mangueira” acena à Belém, “Cidade das Mangueiras”; “menina morena” chama a viver a cidade; e referências como “Bar do Parque” e “bafafá” fixam a canção no mapa afetivo local. Nos versos “Belém, és minha bandeira / És a flor que cheira no Grão-Pará”, bandeira e flor viram emblema e perfume de uma terra maior, o histórico Grão-Pará; “Paranatinga” traz o sabor tupi da toponímia e reforça raízes indígenas. Ao pedir “ata a baladeira” e “balança” à beira d’água, a música une o pulso do carimbó ao respeito pela natureza. O tom de alegria, afeto e orgulho condiz com a trajetória de Lucinha Bastos, que valoriza a música paraense e levou Belém ao mundo — inclusive no Ano do Brasil na França.