Canto Dos Cafezais

A resistência e a fé em "Canto Dos Cafezais" de Lucio Sanfilippo

Em "Canto Dos Cafezais", Lucio Sanfilippo retrata a dura realidade dos trabalhadores negros nas fazendas de café do Brasil. O verso repetido “Acorda negro pra moer café” expõe a rotina exaustiva e a desumanização desses trabalhadores, que eram vistos apenas como mão de obra, sem qualquer consideração por sua individualidade ou sofrimento. O trecho “Sinhá não quer saber se negro é homem, menino ou mulher” destaca a indiferença dos senhores de engenho, mostrando que a opressão atingia a todos, independentemente de idade ou gênero, refletindo o contexto histórico da escravidão e do trabalho forçado nas lavouras.

A música também aborda a importância da fé e da espiritualidade como formas de resistência. Ao citar “a fé que carrego na guia, nas contas do meu orixá”, a letra faz referência direta às religiões afro-brasileiras, como o candomblé, e à devoção aos orixás Oxalá e Iemanjá, símbolos de proteção e esperança. O verso “chora pra manter sua fé” mostra que o choro do negro não é apenas dor, mas também um ato de resiliência. A figura do “preto velho” como conselheiro espiritual reforça a transmissão de sabedoria ancestral, evidenciando como a espiritualidade servia de refúgio e fonte de força para enfrentar a opressão nas fazendas de café.