O Jogo do Bicho

Crítica social e ironia em “O Jogo do Bicho” de Luiz Ayrão

Em “O Jogo do Bicho”, Luiz Ayrão utiliza a ironia para comparar a invenção do jogo do bicho à do avião, colocando lado a lado o Barão de Drummond e Santos Dumont. Com isso, ele critica a forma como o Brasil trata suas próprias criações: enquanto o jogo do bicho foi criminalizado, o país aceita jogos internacionais e apostas de todo tipo. A letra faz um paralelo direto entre a repressão ao jogo do bicho e a hipocrisia de um país que, apesar de proibir essa prática popular, se transforma em um verdadeiro cassino, com jogos legalizados e sorteios televisionados. O verso “Hoje o país é um cassino, a jogatina é geral!” resume essa crítica, mostrando a seletividade e contradição das leis brasileiras.

Ayrão também ressalta o papel social e cultural do jogo do bicho, lembrando que, se fosse legalizado, parte do dinheiro poderia ser investida em escolas e hospitais. Ele destaca que bicheiros historicamente apoiaram o samba e as comunidades, reforçando a ideia de que o jogo do bicho faz parte da identidade nacional. Ao afirmar que “jogo do bicho é maneiro, ele é bem brasileiro”, o artista sugere que, se fosse uma invenção americana, seria exportada e até aceita em lugares conservadores, usando o humor para expor o preconceito e a seletividade moral. A crítica se aprofunda ao comparar o jogo do bicho ao “jogo do voto” e ao “jogo do poder”, apontando que a verdadeira contravenção está na política, onde o povo aposta nas urnas e é enganado. Expressões como “burros e gatos mandando” e a menção ao número 24, associado ao veado, reforçam o tom satírico e denunciam a estigmatização de símbolos populares. Assim, a música questiona a hipocrisia social e política, defendendo a valorização da cultura popular brasileira.