Farinhada

Duplo sentido e cotidiano nordestino em “Farinhada”

A música “Farinhada”, de Luiz Gonzaga, utiliza o duplo sentido para transformar a rotina da produção de farinha de mandioca em um cenário de paquera e humor. O verso “descascava a macaxeira” exemplifica essa ambiguidade, pois descreve tanto o trabalho rural quanto serve como eufemismo para o “vício solitário”, como apontado em análises sobre a canção. Essa abordagem é característica do compositor Zé Dantas, que insere malícia de forma leve e divertida, sem perder o tom respeitoso e descontraído.

A repetição de versos como “Tava na penera / Eu tava penerando / Eu tava no namoro / Eu tava namorando” reforça a mistura entre trabalho e romance, criando um clima de cumplicidade entre os personagens. O ambiente rural, com menções à “serra do Teixeira” e à rotina da farinhada, serve de pano de fundo para encontros e flertes, como no trecho em que o vento “levantava a saia dela / no balanço da penera”. Mesmo quando o pai da moça descobre o namoro, a situação é tratada com leveza e humor, mostrando que tudo faz parte de uma brincadeira. Assim, “Farinhada” celebra o cotidiano do interior nordestino, usando trocadilhos e metáforas para falar de desejo e paquera de forma acessível e espirituosa.