
A Vaca de Fogo
Madredeus
"A Vaca de Fogo": ritual popular e imobilismo social
Em "A Vaca de Fogo", do Madredeus, a imagem da "vaca em chamas" que cruza o adro da igreja remete a rituais populares de raiz pagã absorvidos pelo cristianismo e ainda presentes nas festas locais. Em várias terras portuguesas, "vaca de fogo" é um boi ou uma carcaça conduzida por um homem com pirotecnia nos cornos que corre pelo arraial, misturando fascínio e medo. A canção descreve essa cena com precisão: "vai um grande corropio", "os putos já fogem dela", "soltaram uma vaca em chamas / com um homem a guiar". O refrão sublinha o movimento coletivo, mas também a crítica: "são voltas... da maralha/da canalha". Aqui, "maralha" e "canalha" nomeiam a multidão de modo mordaz, como quem participa e ironiza ao mesmo tempo.
A repetição ritual vira comentário social. As "sete voltas" a "uma coisa velha" evocam procissão, promessa e superstição, enquanto o verso "não muda a condição" expõe o ciclo que se repete sem alterar a vida de ninguém. "Voltas" é o giro do rito e a metáfora de uma sociedade que gira em círculos. Quando se canta "À porta daquela igreja / vive o ser tradicional", a comunidade surge presa a um passado que organiza a festa, mas não cura as feridas. A vaca que arde pode sugerir purificação e sacrifício, mas o estribilho insiste na estagnação. Essa tensão se amplifica pela mistura de fado com sonoridades contemporâneas do grupo e pelo facto de o álbum ter sido gravado ao vivo no Teatro Ibérico, antiga igreja lisboeta: a música nasce dentro do templo que a letra convoca.
O significado desta letra foi gerado automaticamente.



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