Ganas

Desejo, sigilo e promessa em “Ganas”, de Maikel Delacalle

A sacada central de “Ganas” é o trocadilho entre “ganas” (desejo) e “ganar” (ganhar) no refrão “Conmigo tú no pierdes, solo ganas” (comigo você não perde, só ganha), que transforma a atração em promessa de ganho mútuo. O sigilo em “Tranquila, que no se entera tu mamá” (fica tranquila, sua mãe não vai saber) e “fuguémonos sin que nadie lo sepa” (vamos fugir sem que ninguém saiba) funciona como proteção para alguém que já foi ferida — a gíria “se la jugaron” (aprontaram com ela) dá essa pista — mais do que malícia. A mulher retratada foge do clichê: “bella y sencilla” (bonita e simples), com “talento” (talento) e “lo químico” (o químico), avessa ao “típico” (típico) e a relações sérias. Mesmo assim, “Aún así ella tiene ganas” (ainda assim ela tem desejo), e o narrador propõe leveza e amparo: “nena, no cry, yo te ayudo a olvidar” (nena, não chora, eu te ajudo a esquecer). Há piscadas culturais como “Yes so high” (sim, muito alto), que sugerem euforia e clima urbano, e “Yo creo que es canaria” (eu acho que ela é das Canárias), ancorando o enredo no universo de Maikel Delacalle.

No som e na letra, “Ganas” junta cadência de reggaeton e melodias grudentas, fazendo do refrão repetido a própria insistência do desejo. O jogo de palavras se amplia para um “ganar” emocional: com ele, ela não perde autoestima nem liberdade, só ganha prazer e leveza. O segredo diante dos pais atentos dá o tempero clandestino que mantém tudo discreto e sem rótulos, do jeito que ela prefere. Lançada em 2016, a faixa foi peça-chave na ascensão de Maikel Delacalle no urbano latino por unir sedução direta, linguagem de rua e sensibilidade melódica que tornam essa história de atração e cuidado fácil de sentir e cantar.