Camomila

“Camomila”: fé, afeto e alívio na transição de Manda

Lançada em 2021 no álbum “Música”, “Camomila” marca a passagem de Manda do gospel para o pop sem abandonar sua espiritualidade. A promessa “nos Teus braços não há dor, nem choro” remete à linguagem bíblica e ao “T” maiúsculo de “Teus”, sugerindo que a “voz” que acalma pode ser tanto a de um amor humano quanto a de Deus. A canção retrata a mente inquieta e o desejo de pausa — “Às vezes tudo que eu quero é não pensar em nada” — e usa imagens domésticas (chá de maracujá e camomila) como metáforas acessíveis de serenidade. Ao reforçar “Mas nada me acalma como ouvir tua voz”, a letra coloca o cuidado relacional/espiritual acima dos paliativos do cotidiano.

A narrativa acompanha tentativas de autocuidado — “vou sair pra correr, pode ajudar” — e reconhece o desgaste quando a preocupação domina: “de tanta ansiedade vou me desfazendo/ a vida vai passando/ deixo de viver”. O refrão traz um contrapeso de esperança em “Me espera eu vou voltar”, que pode soar como promessa de alguém amado ou resposta de fé. Ao final, “Você nem lembra que a vida pode ser tão leve assim” funciona como lembrete terno de que há um lugar de descanso figurado em “Teus braços”, onde dor e choro cedem espaço à calma. É um pop acolhedor que conserva a marca espiritual de Manda, transformando chás, corrida e escuta afetiva em símbolos de respiro e reconexão.