Aí Eu Choro

Humor e duplo sentido em “Aí Eu Choro”, de Manhoso

A revelação final de que o tal “negócio” é só um “bronzeador” derruba, com humor, a malícia construída na canção. Manhoso conduz o ouvinte por pistas ambíguas — “negócio”, “dá pra qualquer um”, a letra “B” e “na praia está de fora” — até subverter tudo no desfecho. A história é direta: o narrador insiste que a moça lhe dê algo que, segundo ele, “você deu pro meu amigo / filho do seu Isidóro”, e apela com ciúme espirituoso e paquera persistente: “Quando eu peço, eu quero logo”. O jogo de duplo sentido, típico de Manhoso (Edson Correia da Fonseca), veterano do forró cômico e das emboladas com trocadilhos, desemboca no punchline “Menina me dá logo este seu bronzeador”. O vocabulário popular — “negócio”, “dá”, “seu Isidóro” — reforça o clima de conversa de rua e a graça do mal-entendido; quem ouve distraído pode pensar em partes do corpo ou peças de roupa que começam com B, mas a letra fecha a charada de forma inocente, no estilo esperto que o consagrou.

O refrão repetido “aí eu choro” funciona como motor cômico e como “chantagem” leve: é o carimbo do desejo e da frustração sempre que ela não cede. O “Aaa au” reforça a caricatura do chororô e dá balanço de forró brincalhão, transformando a insistência em piada musical. Essa sacada de conduzir a mente ao malicioso e aterrissar no cotidiano visível da praia ajudou a projetar Manhoso, que anos depois seria celebrado até em desfiles de carnaval.