Menino de Rua

Realidade e esperança em "Menino de Rua" de Mano Chaba

"Menino de Rua", de Mano Chaba, aborda de forma direta o estigma e a violência enfrentados por crianças em situação de rua, especialmente em Luanda, cidade onde o artista cresceu. A letra destaca como a luta pela sobrevivência dessas crianças é frequentemente confundida com criminalidade. Isso fica claro quando o personagem, ao tentar matar a fome, é acusado de roubo, evidenciando o preconceito social que transforma necessidades básicas em motivo de punição. O refrão repetitivo — "Não roubei nada / Só era fome" — reforça que o ato não foi motivado por maldade, mas sim pelo desespero, e serve como um apelo por compreensão e empatia.

Mano Chaba se inspirou em realidades próximas para trazer ao kuduro um tema socialmente sensível. A letra também aborda o abandono familiar e a solidão, como em "Minha família me abandonou / Hoje eu durmo na rua aqui na pedonal", e revela o desejo de superação: "Também tenho sonho / Um dia eu quero brilhar / Vou sair das ruas / Vou começar a bumbar". O uso de expressões locais, como "gatunoé" (ladrão) e "txé" (gíria para surpresa ou admiração), aproxima a narrativa do cotidiano angolano, tornando a mensagem mais autêntica. Assim, "Menino de Rua" não apenas denuncia a exclusão social, mas também humaniza quem vive essa realidade, mostrando que, por trás do estigma, existem sonhos e esperança de mudança.