Triagem

A crítica social e a resistência em "Triagem" de Mano Fler

A música "Triagem", de Mano Fler, aborda de forma direta como a sociedade impõe uma seleção constante sobre quem vive nas periferias. O título faz referência ao processo de separar ou avaliar, mas aqui ganha um significado mais profundo: a triagem é uma experiência diária de julgamento, exclusão e sobrevivência. Ao longo da letra, Mano Fler mostra como essa seleção é reforçada por instituições como o judiciário — "Juiz, triagem cê pensa que tá bom?" — e pela própria dinâmica das ruas, onde apenas os mais resilientes conseguem seguir em frente. A crítica ao sistema prisional aparece em "Cadeia é mais que grades, é universidade, mas não ensina nada para aquele que não sabe", mostrando que a prisão, longe de reabilitar, perpetua a exclusão de quem já teve poucas oportunidades.

A letra utiliza uma linguagem urbana e direta para retratar a rotina de quem vive à margem, abordando temas como desigualdade, criminalização da pobreza e o estigma midiático. O trecho "Se eu ganhar um papel na globo vai ser de ladrão / Pra me estampar onde a mídia insiste que é meu lugar" denuncia a representação negativa dos moradores da periferia nos meios de comunicação. Já "auxílio é esmola pra nada / Faz tempo sem saúde e sem educação" critica a insuficiência das políticas públicas e o abandono estatal. A frase "a flor que abre, nós vamo poda!" reforça como qualquer tentativa de ascensão é rapidamente reprimida. A participação de Lado Sujo da Frequência e Vietnã, junto à produção de Mortão VMG, amplia a força da mensagem, trazendo diferentes perspectivas e um clima sombrio à faixa. Apesar das críticas, a música também fala de resistência: "Derrota te ensina a importância de nunca deixar de lutar / Sua fé quando a mente trabalha é divino, não é fácil combater". Assim, "Triagem" se destaca como um retrato realista das barreiras e da luta por dignidade nas periferias urbanas brasileiras.