Indireta

Relações e cotidiano em "Indireta" de Marcello Gugu

Em "Indireta", Marcello Gugu transforma cada verso em uma mensagem pronta para ser compartilhada, como ele mesmo já afirmou. A proposta é tornar a poesia algo cotidiano e acessível, aproximando o ouvinte das experiências retratadas. O artista utiliza metáforas como “nossos beijos fazem com que amores de cinema sejam superficiais demais” e “pintamos o céu, nas cores de uma nebulosa” para mostrar que o relacionamento descrito vai além dos clichês românticos, criando um universo próprio onde a intensidade e a autenticidade dos sentimentos são centrais. O flerte aparece como um elemento fundamental, representando a capacidade do amor de se renovar e permanecer sempre atual, mesmo com o passar do tempo.

A letra também aborda os desafios da convivência, como nas comparações entre discussões e sons desagradáveis – “sua voz, soa como unhas numa lousa” – e no processo de reconciliação, simbolizado por “rosas em cima da mesa”. Gugu utiliza imagens do cotidiano, como o casal no metrô e as noites em claro ao telefone, para tornar a poesia tangível e fácil de se identificar. O trecho “sexo é o que a gente faz na cama, parados ou quase / E amor é o que a gente faz andando, de mãos dadas” destaca a diferença entre desejo e afeto, mostrando maturidade emocional. Além disso, a música brinca com duplos sentidos e referências culturais, como “Valesca e Madre Tereza” para ilustrar o equilíbrio entre sensualidade e pureza, e a menção a Stevie Wonder para falar sobre a força de um sorriso. O tom leve e íntimo, aliado ao formato de spoken word, reforça o compromisso de Gugu em democratizar a poesia e torná-la uma expressão direta e universal.