FEBRE DO RATO

Resistência e contradição em “FEBRE DO RATO” de Marcelo D2

Em “FEBRE DO RATO”, Marcelo D2 se inspira diretamente no personagem Zizo, do filme homônimo de Cláudio Assis, para construir uma narrativa sobre resistência e sobrevivência à margem da sociedade. O verso “Às vezes, nada dá liga, amigo Zizo dizia / Cachaça e rapariga essas horas é poesia” mostra como a música se apropria da figura do poeta marginal, que encontra na poesia e nos excessos uma forma de desafiar a opressão e afirmar sua individualidade em meio ao caos.

A letra adota um tom contestador e urbano, rejeitando padrões impostos e denunciando a hipocrisia social: “Eles querem que a gente sonhe se vestir igual eles / Falar igual eles, pra trabalhar pra eles / Mas comigo não, relíquia / Eu tô aqui pra desafinar o coro dos contentes”. Essa recusa em se submeter ao sistema reflete tanto o espírito do filme quanto a postura de D2, que valoriza a autenticidade e a dignidade de quem vive à margem. A expressão “febre do rato”, gíria nordestina para descontrole ou rebeldia, simboliza esse estado de indignação e vontade de romper com as amarras sociais. A música também reconhece as contradições humanas: “Eu sou o sim, também o não / Sou liberdade, eu sou prisão / O que bate e o que estende a mão / Sou eu: pura contradição”.

Ao alternar entre denúncia das dificuldades (“Roubaram meu sonho, acabou / Se eu fui livre, hoje, eu não sou”) e a afirmação do direito de errar (“Quero ter o direito de errar, eu sei que eu posso errar / É que errando, eu posso acertar”), D2 constrói um manifesto de resistência e autenticidade. As referências culturais, como Barry White e Pharcyde, reforçam a busca por identidade e criatividade mesmo diante da adversidade, conectando a música ao universo do filme e à realidade das periferias urbanas brasileiras.