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O Sentido da Vida

Marco Brasil

LetraSignificado

    Essa é uma história que já deixou muita gente comovida
    Fala sobre um homem
    Que achava que, na sua vida, muitas coisas
    Pra ele não faziam sentido

    É a história de um fazendeiro
    Um homem sem coração
    Mas que um dia pagou caro
    Pelo seu desprezo e sua ingratidão

    Dos quatro filhos que teve
    Três ele trazia na palma da mão
    Com carinho e muita adula
    E o outro era a caçula, que seria sua sina

    Só porque ela era menina
    Ele não escondia a decepção
    E pra todos ainda dizia
    Que filho tinha que ser homem

    Que era pra ajudar o pai na lida
    E que um dia seria o dono do seu próprio chão
    E que filha mulher era atraso de vida
    Além de não servir pra lida, não saberia dar ordens

    E jamais poderia um dia ser patrão
    Em todo canto que ia, os três filhos ele levava
    Só que a menina ele desprezava
    E ela, entristecida, chorava escondida

    Em seu canto ficava
    Sabendo que o maior erro da sua vida
    Era ter nascido mulher
    Essa era a única culpa que ela carregava

    Mas um dia, já cansada
    Do desprezo que sofria
    Chamando o pai de lado
    A verdade ela dizia

    Meu pai, o senhor me viu nascer
    Mas nunca me considerou
    Já ouvi muito o senhor dizer
    Que o seu maior orgulho é a fazenda de gado

    E ver seus filhos do seu lado
    No lombo de um cavalo ou em cima de um trator
    Mas é só dos meus irmãos que o senhor tem falado
    Porque comigo o senhor nunca se importou

    E nesse momento, dos olhos da menina
    Uma lágrima rolou
    Mas ela continuou o pensamento
    E, mesmo chorando, ainda falou

    Eu podia muito bem ter nascido um menino
    Talvez tenha sido esse o erro do meu destino
    Que eu acho que ele não me ajudou
    Mas agora eu vejo que ter nascido sua filha

    Foi mesmo um engano, Eu já tenho doze anos
    E nunca ganhei um beijo e um abraço do senhor
    E é com a alma ferida e o coração em brasa
    Que eu vou embora dessa casa e da sua vida

    Ele ouviu as palavras
    Daquela pobre menina
    Mas não se comoveu com suas lágrimas
    E ainda falou

    Eu nunca ouvi tanta bobeira!
    Tanta coisa pra eu fazer e eu aqui
    Perdendo tempo com as suas besteiras
    E, se quer saber, filho mesmo eu só tenho três

    E já que você quer ir embora
    Pode ir de uma vez
    E ela se foi, pegou a estrada e foi embora
    Só levando uma sacola com as roupas que usava

    Nunca mais mandou notícia
    E nunca mais voltou
    Alguns anos se passaram
    E o fazendeiro começou a ver de perto a sua sina

    Dos filhos que sempre adulava
    Não foi bem o que esperava
    E começou sua ruína
    Mais um tempo depois

    O fazendeiro foi perdendo o dinheiro
    Enquanto a doença matava seus bois
    Os filhos que ele tanto adorava
    Só pensavam em farra e liberdade

    Pra fazenda não ligavam
    Passavam o ano inteiro festando
    E assim foram gastando
    Todo o dinheiro que tinham

    O fazendeiro foi ficando desesperado
    Seu sangue fervia nas veias
    Gastando com advogado
    Pra tirar os filhos drogados da cadeia

    Depois de velho e cansado
    Se viu um homem derrotado
    Abandonado pelos próprios filhos
    Num buraco negro e profundo

    Desprezado por todo mundo
    Completamente só e endividado
    A fazenda que já foi seu reino encantado
    Teve que vender pra um comprador de outro estado

    Que cobriu a oferta que foi dada
    E aceitou as condições que ele pedia
    Que só venderia a propriedade
    Se pudesse continuar ali

    Mesmo que fosse pra trabalhar de empregado
    Só pra poder viver o resto dos seus dias
    E, com o orgulho ferido
    Reconhecendo o fracasso

    Vendo que tudo o que construiu
    Com os próprios braços
    Agora não passava de um sonho perdido
    Destruído pelos filhos

    E que fez dele um simples empregado
    Velho e cansado
    Um dia, ele estava sentado debaixo de uma árvore
    Admirando tudo aquilo que já foi seu

    Quando recebeu o recado
    De que ia ser dispensado
    E ao escritório da fazenda compareceu
    Quando foi chegando, já foram lhe falando

    Já está pronta a papelada
    Só falta a assinatura do senhor
    E ele, nervoso, respondeu
    Fique sabendo, sua secretária

    Que tudo isso um dia foi meu
    No dia em que vendi essa fazenda
    O comprador sabia que eu ficaria aqui
    Trabalhando de empregado

    O corretor me avisou que ele tinha concordado
    Disse que morava em outro estado
    Sendo que eu nem o conheço
    Porque ele nunca apareceu

    Pode dar um recado pra esse seu patrão
    Diga que nesse chão ainda vou ser enterrado
    E eu não vou assinar papel de demissão
    Ela então respondeu

    O senhor está muito enganado
    Entrou aqui me chamando de secretária
    Mas eu sou a proprietária da fazenda
    E o senhor é o meu empregado

    Ele abaixou a cabeça e ficou calado
    Mas depois respondeu
    Eu nunca na vida me senti tão humilhado
    Pode me dar a papelada, eu assino minha demissão

    Prefiro pegar a estrada
    Do que ter que chamar uma mulher de patrão
    Ela tirou da gaveta uns papéis e uma caneta
    E colocou na sua mão

    Depois que ele assinou
    Ela se levantou e disse
    O senhor parece que está chorando
    Se quiser, pode ir andando

    Que eu tenho mais o que fazer
    E ele foi saindo, cabisbaixo
    Sabendo que ia embora
    Mas sem rumo certo

    Sua vida virou um deserto
    E ele se sentia um velho desamparado
    Foi quando chegou um garotinho
    E lhe disse

    Por que o senhor está chorando, parado
    Enquanto minha mãe também chora te olhando?
    Nunca vi ela maltratar um empregado
    Mas pode ficar sossegado

    Não precisa chorar mais, não
    Ela já está vindo aí
    E com certeza vai te pedir perdão
    Quando viu ela se aproximando, disse

    Eu não preciso do seu consolo
    E muito menos do seu perdão
    A senhora é rica e fazendeira
    E eu sou um velho sem nada na vida

    Mas vou sair daqui de cabeça erguida
    E ao cruzar aquela porteira que eu construí
    Quero ouvir o som da batida
    Que antes marcava minha chegada

    Mas hoje me aponta a estrada
    Que, por ironia, será meu ponto de partida
    Já estou indo embora
    Já até peguei minha sacola

    A senhora pode cuidar dos seus empregados
    Eu não preciso de despedida
    Porque desse chão que já foi minha vida
    Não posso sair assim, tão humilhado

    Ela então falou
    Dessa vez o senhor não se enganou
    Com desprezo e humilhação
    Ninguém alcança a felicidade

    Mas vejo que o senhor aprendeu a lição
    Só uma coisa ainda não percebeu
    Durante trinta anos, acompanhei seus passos
    Vi sua glória e seu fracasso

    E se ainda não me reconhece
    Eu vou te contar a verdade
    Um dia eu também fui humilhada e desprezada
    Pelos meus pais e meus irmãos

    Aos doze anos de idade
    Peguei a estrada
    Levando amargura e solidão
    E prometi pra mim mesma que um dia venceria

    E quando vencesse na vida, eu voltaria
    Pra mostrar o meu valor
    Mas já vejo nos seus olhos, nas lágrimas
    Que o senhor sabe quem eu sou

    Aprendi que a vingança
    Não é uma boa aliança
    Só aumenta nossa dor
    Por favor, meu pai, chega de chorar

    Não vamos mais sofrer
    Me dê um beijo e um abraço
    Que um abraço e um beijo eu também quero te dar
    O mundo me ensinou a viver

    E a vida me ensinou a perdoar
    Por isso o senhor não precisa ir embora
    O senhor já tem sua fazenda de volta pra cuidar
    E pra entender melhor

    Faço questão de mostrar
    Os papéis que o senhor assinou na minha mesa
    E que, nervoso, nem leu antes de assinar
    Não eram sua demissão

    Eram a escritura da fazenda
    Que estou devolvendo em suas mãos
    Esse é o presente que eu queria te dar
    E comigo o senhor não precisa se preocupar

    Eu estarei aqui bem perto
    Em outra fazenda que acabei de comprar
    E já que o senhor não vai mais embora
    Me dê sua sacola

    Que seu neto também quer te abraçar
    E ele, que andava se sentindo tão sozinho
    Quando o menino o abraçou
    Beijou seu rosto, chamando-o de avô

    Se ele ainda tinha mágoa no pensamento
    Naquele momento tudo se acabou
    Chorando, abraçou a filha e o netinho
    Pediu perdão pelo passado

    Totalmente arrependido
    Voltou a ser um homem honrado
    E só então, pra ele, a vida
    Mente fez sentido

    Composição: Beto Pereira. Essa informação está errada? Nos avise.
    Enviada por Marcos. Legendado por Thamyres. Revisões por 3 pessoas. Viu algum erro? Envie uma revisão.

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