A Chuva Sem Gal (part. Joyce Moreno)

Tributo à Gal em “A Chuva Sem Gal (part. Joyce Moreno)”

O título desloca a chuva para um vazio concreto: “sem Gal” transforma o tempo em luto. A letra é um tributo íntimo que une a cena real de Marcos Valle compondo ao piano sob a chuva, logo após a morte de Gal Costa, em 9 de novembro de 2022, à memória de “Chuva de Prata”, gravada por ela. Em “Havia um cristal / Nas asas do vento”, a lembrança da voz de Gal — brilhante e leve — surge como algo frágil que ainda oferece alento. Quando aparece “Pintando de azul o cinzento”, a canção mostra como a presença dela coloria a tristeza; em “A chuva sem Gal / Caiu de mansinho / Foi quase um carinho”, a água daquele dia vira consolo e eco do repertório de Gal, especialmente de “Chuva de Prata”.

Na sequência, “Lembrando um Brasil brasileiro / O Sol desse canto certeiro” atribui a Gal a síntese afetiva de um país cantado em muitas cores. O trecho “Parece que o tempo não liga / E assim se desliga / Se torna canção / No fundo do meu coração” liga diretamente contexto e letra: o choque suspende o tempo e vira música, com Joyce Moreno escrevendo, em lágrimas, a letra para a melodia enviada por Valle. O arranjo com Tutty Moreno (bateria), Jorge Helder (baixo) e Jessé Sadoc (flugelhorn) reforça a ideia de chuva mansa, timbrando a saudade com suavidade. A capa, assinada por Omar Salomão — parceiro visual de Gal em “Nenhuma Dor” —, amplia o gesto de homenagem. No fim, “Foi quase um carinho / Foi quase um sinal” reconhece que a ausência do corpo não apaga a presença do canto, agora guardada na memória e na canção.