Motriz

Memória e maternidade em "Motriz" de Maria Bethânia

A música "Motriz", de Maria Bethânia, explora a ligação entre memória familiar, espiritualidade e a presença materna como força central na vida. O termo "motriz" faz referência ao trem que conectava Santo Amaro a Salvador, uma viagem marcante para Bethânia e sua mãe, Dona Canô. Ao mesmo tempo, a palavra sugere movimento, origem e continuidade, enquanto "matriz" reforça a ideia de fonte, seja ela a mãe, a igreja ou a terra natal. Essa dualidade aparece no verso “Embaixo a Terra e em cima o macho, o céu / E, entre os dois, a ideia de um sinal”, criando uma ponte entre o mundo terreno e o divino, com a voz materna servindo como elo entre esses universos.

A repetição de “E nós, mãe / Candeias, motriz” e “matriz” destaca a importância da relação entre mãe e filha, além das raízes familiares e culturais. O trecho “Aquilo que eu não fiz e tanto quis / É tudo o que eu não sei, mas a voz diz” expressa o sentimento de desejo não realizado e de busca, suavizado pela orientação e conforto transmitidos pela voz da mãe, que atua como guia espiritual e emocional. Assim, a canção transforma a experiência pessoal de Bethânia em uma reflexão universal sobre pertencimento, herança e a busca de felicidade por meio dos laços afetivos e da memória, tudo permeado por uma atmosfera de contemplação e saudade.