De Quem É a Culpa?

Culpa e idealização em "De Quem É a Culpa?" de Marília Mendonça

"De Quem É a Culpa?", de Marília Mendonça, aborda a dor do término sob uma perspectiva diferente: a de quem sofre não só pela ausência do outro, mas também pelo confronto com a própria idealização. Inspirada por uma paixão platônica não correspondida, Marília transforma esse sentimento em versos que revelam autocrítica e confusão emocional, como em “Me apaixonei pelo que eu inventei de você”. A música mostra como, muitas vezes, nos apaixonamos mais pela imagem que criamos do outro do que pela pessoa real.

A letra trabalha a culpa de forma ambígua, questionando se ela pertence ao outro, por ser encantador e distante, ou a quem se deixou levar por esse encanto: “A culpa é sua por ter esse sorriso / Ou a culpa é minha por me apaixonar por ele?”. Esse dilema reflete o processo vivido pela própria Marília, que tentou se transformar para agradar o homem admirado, mas acabou enfrentando frustração e solidão. O tom confessional se intensifica em versos como “Eu tô parado no meio da rua / Eu tô entrando no meio dos carros / Sem você, a vida não continua”, mostrando o impacto da rejeição e da sensação de abandono.

O contexto da composição reforça temas como autoanulação e busca por aprovação, já que Marília escreveu a música durante uma fase de tentativa de agradar o outro. Além disso, a canção ganhou um significado ainda mais forte ao ser lançada após a morte de Cristiano Araújo, para quem seria originalmente destinada, e ao receber uma versão póstuma com as vozes dos dois artistas. Assim, "De Quem É a Culpa?" vai além de uma canção sobre término, abordando autossabotagem, idealização e a dificuldade de aceitar o fim de algo que nunca existiu de verdade.