Leão (part. Xamã)

Desejo, palco e bastidores em “Leão (part. Xamã)” no amor

“Leão (part. Xamã)” vira o símbolo de força pelo avesso: o “despenteado leão” projeta poder, mas revela confissão. O rap melódico de Xamã encontra a intensidade de Marília Mendonça e acende um romance de vai e vem — parceria iniciada no álbum Zodíaco (2020) e retomada quando Marília levou a canção ao arrocha na live Serenata, depois lançada de forma póstuma em Decretos Reais (hit absoluto em 2023). A metáfora do leão mistura coragem com desordem emocional: há bravata e sinceridade em versos como “vilão particular / sou um blefe de um filme de ação” e “não posso ser seu santo”. O flerte é direto e ambíguo: “vem de garfo que hoje é sopa” transforma a conquista difícil em convite; “teu olho piscina / me afoga e faz boca a boca” erotiza o resgate; “Mona Lisa” e “quadro sem explicação” tratam a amada como enigma; “vampiro de filmes pastelão” debocha do drama pegajoso; “tô de um jato lunar / na capital de São Sebastião” junta fuga espacial com pouso bem carioca.

O enredo se move por três tensões. Fuga x entrega: “sempre foge quando namora” x “se quiser ficar, eu disfarço e agarro sua mão”. Palco x bastidores: ele brilha quando estampa “banca de jornal”, mas busca o toque fora do show. Coragem x fragilidade: ora “rei, cigano ou nômade”, ora hipótese incerta. O jogo de sedução nasce do diálogo entre vozes — ele chama, ela responde — e, mesmo na versão solo, a dinâmica permanece; como disse Xamã, Marília “faz o complicado virar simples”. No fim, o desejo não pede licença, e a força que protege também expõe: o mesmo rugido que conquista denuncia o medo de perder.