exibições de letras 89

Minha Terra

Mário Pinheiro

Letra

    Todos cantam sua terra
    Também vou cantar a minha!
    Nas débeis cordas da lira
    Hei de fazê-la rainha!
    Hei de dar-lhe a realeza
    Nesse trono de beleza
    Em que a mão da natureza!
    Esmerou-se em quanto tinha

    Corri pras bandas do sul
    Debaixo dum céu de anil!
    Encontrareis o gigante
    Santa Cruz, hoje Brasil
    É uma terra de amores
    Alcatifada de flores
    Onde a brisa fala amores
    Nas belas tardes de Abril!

    Tem tantas belezas, tantas
    A minha terra Natal
    Que nem as sonha um poeta
    E nem as canta um mortal!
    É uma terra encantada
    Mimoso, jardim de fada!
    Do mundo todo invejada
    Que o mundo não tem igual!

    Não, não tem, que Deus fadou-a
    Dentre todas, a primeira
    Deu-lhe esses campos bordados
    Deu-lhe os leques da palmeira
    E a borboleta que adeja!
    Sobre as flores que ela beija
    Quando o vento rumoreja
    Na folhagem da mangueira

    É um país majestoso
    Essa terra de Tupã!
    Desde o Amazonas ao Prata
    Do Rio Grande ao Pará!
    Tem serranias gigantes
    E tem bosques verdejantes
    Que repetem incessantes
    Os cantos do sabiá!

    Ao lado da cachoeira
    Que se despenha fremente
    Dos galhos da sapucaia
    Nas horas do Sol ardente
    Sobre um solo de açucenas
    Suspensas a rede de penas
    Ali nas tardes amenas
    Se embala o índio indolentes!

    Foi ali que noutro tempo
    À sombra do cajueiro
    Soltava seus doces carmes
    O Petrarca brasileiro!
    E a bela que o escutava
    Um sorriso deslizava!
    Para o bardo que pulsava
    Seu alaúde fagueiro

    Quando Dirceu e Marília
    Em terníssimos enleios
    Se beijavam com ternura
    Em celestes devaneios
    Da selva o vate inspirado
    O sabiá namorado
    Na laranjeira pousado
    Soltava ternos gorjeios

    Foi ali, no Ipiranga
    Que com toda a majestade
    Rompeu de lábios augustos
    O brado da liberdade!
    Aquela voz soberana
    Voou na plaga indiana!
    Desde o palácio à choupana
    Desde a floresta à cidade!

    Um povo ergueu-se cantando
    Mancebos e anciãos
    E filhos da mesma terra
    Alegres deram-se as mãos
    Foi belo ver esse povo
    Em suas glórias tão novo
    Bradando cheio de fogo
    "Portugal! Somos irmãos!"

    Quando nasci, esse brado
    Já não soava na serra
    Nem os ecos da montanha
    Ao longe diziam: Guerra
    Mas não sei o que sentia
    Quando, a sós, eu repetia
    Cheio de nobre ousadia
    O nome da minha terra!

    Se brasileiro nasci
    Brasileiro hei de morrer
    Que um filho daquelas matas
    Ama o céu que o viu nascer
    Chora, sim, porque tem prantos
    E são sentidos e santos
    Se chora pelos encantos
    Que nunca mais há de ver

    Chora, sim, como suspiro
    Por esses campos que eu amo
    Pelas mangueiras copadas
    E o canto do gaturamo
    Pelo rio caudaloso
    Pelo prado tão relvoso
    E pelo tié formoso
    Da goiabeira no ramo!

    Quis cantar a minha terra
    Mas não pode mais a lira
    Que outro filho das montanhas
    O mesmo canto desfira
    Que o proscrito, o desterrado
    De ternos prantos banhado
    De saudades torturado
    Em vez de cantar suspira!

    Tem tantas belezas, tantas
    A minha terra Natal
    Que nem as sonha um poeta
    E nem as canta um mortal!
    É uma terra de amores
    Alcatifada de flores
    Onde a brisa em seus rumores
    Murmura: Não tem rival!

    Composição: Casimiro De Abreu. Essa informação está errada? Nos avise.

    Comentários

    Envie dúvidas, explicações e curiosidades sobre a letra

    0 / 500

    Faça parte  dessa comunidade 

    Tire dúvidas sobre idiomas, interaja com outros fãs de Mário Pinheiro e vá além da letra da música.

    Conheça o Letras Academy

    Enviar para a central de dúvidas?

    Dúvidas enviadas podem receber respostas de professores e alunos da plataforma.

    Fixe este conteúdo com a aula:

    0 / 500

    Opções de seleção