Rasga o Coração (Yara)
Mário Pinheiro
Se tu queres ver a imensidão do céu e mar
Refletindo a prismatização da luz solar!
Rasga o coração, vem te debruçar
Sobre a vastidão do meu penar!
Sorve todo o olor que anda a recender
Pelas espinhosas florações do meu sofrer!
Vê se podes ler nas suas pulsações
As brancas ilusões a o
Que ele diz no seu gemer!
E que não pode assim dizer!
Nas palpitações, ouve-o brandamente
Docemente, palpitar, casto e purpural!
Num treno vesperal mais puro que
Uma cândida vestal!
Pousa a tua mão sobre esta paixão!
Dá-lhe a extrema unção
Em ternas benções de perdão!
Ouve o coração filtrando, em solidão
As lágrimas choradas musicadas!
No cristal da inspiração!
Que, na aflição deste infindo amor
Geme sob a dor, sob punhal, deste ideal!
Deste perenal desejo de sofrer
Que um dia morrerá, se Deus morrer!
Hás de ouvir um hino
Só de flores a cantar!
Sobre um mar de pétalas de dores ondular
Doido a te chamar, anjo tutelar!
Na ânsia de te ver ou de morrer!
Anjo do perdão!
Flor vem me abrir com a tua mão
Cheia de neve na primavera desta dor
Ao reflorir, mago sorrir!
Nos rubros lábios teus
Verá meu coração sorrindo a Deus!
Palma lá do Empíreo!
Que alentou Jesus na cruz
Lírio do martírio!
Coração, hóstia de luz
Aí crepuscular, túmulo estelar!
Rubra Via-sacra do penar
Rasga-o, que hás de ver
Lá dentro a dor a soluçar!
Sob o peso de uma cruz
De lágrimas, a chorar!
Anjos a cantar preces divinais
Deus a ritmar meus pobres ais!
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