Segue o Seco

Resistência e esperança no sertão em “Segue o Seco”

Em “Segue o Seco”, Marisa Monte utiliza a repetição da palavra “seco” e suas variações para destacar tanto a aridez do sertão nordestino quanto a secura emocional vivida por quem enfrenta essa realidade. Logo nos primeiros versos, expressões como “segue o seco sem sacar que o caminho é seco” mostram um ciclo de sofrimento e resignação, em que a falta de água se torna parte do cotidiano, muitas vezes sem que se perceba o impacto profundo dessa ausência. O uso de repetições e aliterações cria uma atmosfera de desolação, mas também sugere resistência e sobrevivência diante das adversidades.

A música traz ainda uma súplica pela chuva, como nos versos “Ô chuva, vem me dizer / Se posso ir lá em cima pra derramar você”, que personificam o desejo coletivo por alívio e renovação. Essa busca se conecta à expressão popular “lágrimas de São Pedro”, que associa a chuva ao choro do santo, reforçando a fé e a esperança presentes na cultura nordestina diante da seca. O trecho “Pode ser lágrimas de São Pedro / Ou talvez um grande amor chorando” amplia o significado da chuva, permitindo interpretações espirituais e emocionais: a água pode ser vista como bênção divina ou como metáfora para sentimentos reprimidos e a necessidade de extravasar a dor. Assim, “Segue o Seco” vai além da denúncia social, tornando-se um retrato sensível da resistência, fé e esperança de um povo que, mesmo diante da aridez, segue em busca de renovação.