Sultans Of Swing

“Sultans Of Swing” e a dignidade de tocar sem plateia

O título grandioso é uma piada interna: numa noite chuvosa em Deptford, uma bandinha de jazz toca para quase ninguém e se apresenta como “Sultans Of Swing”. A cena real inspirou Mark Knopfler a compor um retrato afetuoso de músicos que tocam por gosto, não por fama. A letra nos coloca “south of the river” (ao sul do rio), num pub pequeno com poucas “faces” (rostos), ouvindo um dixieland de velho estilo enquanto a cidade oferece “too much competition” (muita concorrência). Surge o contraste: quase ninguém liga, mas “not too many horns can make that sound” (não há muitos metais que consigam aquele som), sinal de respeito à habilidade desses veteranos. A chuva e o “time bell rings” (o sino da hora toca) dão clima de fim de noite, quase documental.

Os personagens sustentam a ideia de ofício. “guitar George” (George da guitarra) sabe todos os acordes, prefere “strictly rhythm” (apenas base rítmica) e toca a guitarra que pode pagar; “Harry” (Harry) trabalha de dia e guarda o gás para a sexta. Eles não fazem cena; fazem música. No canto, garotos de plataformas querem “rock and roll” (rock and roll) e desprezam “any trumpet playing band” (qualquer banda com trompete), realçando o choque entre tendência e tradição — e o verso “they play Creole” (eles tocam “Creole”, estilo crioulo) aponta para um repertório antigo, com sabor de New Orleans. No final, o anúncio “We are the sultans of swing” (Somos os sultões do swing) repete a ironia: nome grandioso para um prazer simples e digno. Musicalmente, o longo solo derradeiro coroa esse pequeno épico sem glamour, dando aos “sultans” um desfecho maior que a plateia, à altura da devoção deles.