Urubu É Meu Lôro

A Resistência Cultural em 'Urubu É Meu Lôro' de Marku Ribas

A música 'Urubu É Meu Lôro' de Marku Ribas é uma rica tapeçaria de metáforas e críticas sociais, refletindo a resistência cultural e a luta pela identidade em um contexto de influências externas. A letra começa com imagens de trabalho árduo e resiliência, como 'pego seco na viola' e 'brigo pra dizer', sugerindo a persistência do artista em manter sua voz e cultura viva, mesmo diante de adversidades. A troca da noite pelo dia e o cisco para comer reforçam a ideia de sacrifício e sobrevivência.

A canção também aborda a invasão cultural e a perda de identidade, representada pelo 'gringo tirando mais medidas do nosso quintal'. Essa linha sugere a exploração e a apropriação cultural por parte de estrangeiros, enquanto o pedido para tocar rock, um gênero musical estrangeiro, simboliza a pressão para se conformar às tendências globais, em detrimento das tradições locais. A figura do 'rei na barriga' e do 'papa cear' na 'terra do nunca' pode ser interpretada como uma crítica à arrogância e à hipocrisia de figuras de autoridade que, apesar de suas posições, não compreendem ou respeitam a cultura local.

O refrão 'Urubu de meu lôro' é uma metáfora poderosa que subverte a percepção negativa do urubu, um pássaro geralmente associado à morte e à decadência, transformando-o em algo positivo e familiar, como um louro. Isso reflete a capacidade de ressignificação e resistência cultural, onde mesmo elementos considerados negativos podem ser reapropriados e valorizados. A colher-de-pau, um utensílio simples e comum, também serve para fazer bolo, simbolizando a versatilidade e a riqueza da cultura popular, que pode criar beleza e sustento a partir de elementos humildes.