A Vida Que Felizmente Não Vivi

Humor ácido e crítica social em “A Vida Que Infelizmente Não Vivi”

"A Vida Que Infelizmente Não Vivi", de Matheus Canella, utiliza o humor ácido para transformar situações cotidianas e absurdas em uma narrativa sobre uma vida fictícia repleta de desastres. Elementos como "sacola do supermercado Dia como proteção" e "show do Detonautas" satirizam o improviso e a falta de planejamento comuns em histórias brasileiras, ao mesmo tempo em que criam um retrato cômico das origens do personagem. A sacola furada, por exemplo, faz piada com a precariedade e a criatividade popular, enquanto a menção ao Detonautas insere a letra em um contexto cultural reconhecível.

A música avança para situações cada vez mais surreais, como a consulta à cartomante online em vez de um teste de farmácia, o parto em um terreno baldio e a recusa à medicina e vacinação, que levam a consequências absurdas, como "meu osso da bacia, ia virar um c cedilha". Essas escolhas ironizam crenças alternativas e o negacionismo científico, além de criticar comportamentos sociais de forma leve. O acúmulo de desventuras — da infância negligenciada às situações bizarras da juventude — constrói uma caricatura de uma vida desastrosa, encerrada de modo igualmente absurdo: "minha mamãe tomou um porre de chá de canela durante uma bienal do livro e eu sai pela vagina dela como no insano aquele toboágua do Beach Park". Ao final, Canella afirma: "essa é a vida que felizmente eu nunca vivi", usando a ironia para provocar reflexão sobre responsabilidade, crenças populares e o absurdo do cotidiano, sempre com leveza e humor.