Um Dia Útil

Rotina e invisibilidade do artista em “Um Dia Útil”

A música “Um Dia Útil”, de Mauricio Pereira, retrata de forma direta a rotina de um músico que vive entre a normalidade do dia a dia e as particularidades de sua profissão. A letra destaca a sensação de invisibilidade do artista, mesmo quando está diante do público, como nos versos: “às vezes pra ninguém porque é ensaio / às vezes pra ninguém mesmo não sendo ensaio”. Essa percepção se conecta ao questionamento existencial do final da canção: “se quando a gente canta alguém presta atenção na letra”, revelando a dúvida sobre o impacto real da arte e a busca por sentido em meio à repetição dos dias.

Mauricio Pereira se inspira em sua própria experiência, mostrando o desafio de equilibrar o trabalho artístico com a vida familiar. A rotina descrita – acordar cedo, tomar café apressado, sair sem se despedir e voltar para casa com todos dormindo – evidencia a distância imposta pelo trabalho, mas também o carinho nos pequenos gestos, como “beijo eles, um por um / cubro eles, um por um”. A versão mais recente da música, mais minimalista, reflete o amadurecimento do artista e uma compreensão mais profunda da própria letra, tornando a reflexão sobre o valor do trabalho artístico ainda mais sincera.

A canção também aborda as emoções contraditórias do artista: a sensação de importância diante da plateia, o silêncio solitário ao chegar em casa e o turbilhão de sentimentos antes de dormir – “fé, tristeza, alegria, tesão, neura, fantasia, dionísio e ditadura”. No final, Pereira transforma o “dia útil” em algo precioso, comparando-o a um diamante, reconhecendo tanto a dureza quanto a beleza de sua rotina. “Um Dia Útil” é um retrato honesto dos desafios e das buscas de quem vive da arte.