Beatriz

O mistério e a idealização em "Beatriz" de Mauro Senise

A alteração do verso para "será que é divina / a sina da atriz" feita por Chico Buarque, décadas após a composição, destaca o destino inevitável e quase trágico da personagem principal, indo além da simples existência da atriz. Esse detalhe reforça o clima de mistério e idealização que atravessa toda a letra, onde a atriz é retratada como uma figura distante e enigmática. As perguntas "Será que ela é moça / Será que ela é triste / Será que é o contrário" mostram como ela permanece envolta em dúvidas, sempre fora do alcance de quem observa.

A referência à Beatrice Portinari, musa de Dante, aprofunda a ideia de uma mulher idealizada e inatingível, que desperta fascínio, mas permanece cercada de enigmas. A música cria uma atmosfera de contemplação e sonho, explorando a linha tênue entre realidade e fantasia. As perguntas sobre a atriz – se ela é "de louça", "de éter", se mora "num arranha-céu" ou se as "paredes são feitas de giz" – sugerem tanto a fragilidade quanto a efemeridade de sua existência. O desejo de "entrar na sua vida" revela a vontade de ultrapassar a barreira entre o palco e a vida real. O verso "me ensina a não andar com os pés no chão" reforça o convite ao sonho, enquanto "diz se é perigoso a gente ser feliz" expressa o medo de que a felicidade, nesse universo idealizado, seja algo passageiro ou arriscado. Assim, a letra equilibra admiração, dúvida e desejo, compondo um retrato sensível da busca por algo que talvez só exista entre o real e o imaginário.