Dimokránsa

Crítica social e identidade em "Dimokránsa" de Mayra Andrade

Em "Dimokránsa", Mayra Andrade faz uma crítica direta à democracia em Cabo Verde, destacando suas distorções e contradições. Logo no início, a música aponta para a normalização da mentira e o encobrimento da verdade, como nos versos “mintira pom di kada dia / verdádi ka s'ta kontádu” (mentira é servida todo dia / a verdade não é contada). Essa abordagem reflete a percepção de que o sistema democrático, apesar de prometer liberdade e participação, muitas vezes se distancia dos valores tradicionais e se perde em discursos vazios e manipulações políticas, como observa o compositor Kaka Barboza. A frase “vida bira simplismenti / konsedju bira ka ta obidu” (a vida se torna simples / conselhos deixam de ser ouvidos) reforça a ideia de que, na prática, a sociedade ignora princípios essenciais, tornando o cotidiano superficial.

A letra também traz referências históricas e culturais para aprofundar a crítica. Ao citar nomes como Diogo Gomes e Craveiro Lopes, além de mencionar a transformação de São Francisco após a chegada dos ingleses, a canção simboliza a influência estrangeira e a consequente perda de identidade nacional. O trecho “dja skesedu di pepé lópi / bá rabuskádu nhu diogu gómi / rasusitádu nhu kraveru lópi” (já esqueceram Pepé Lópi / foram buscar Diogo Gomes / ressuscitaram Craveiro Lopes) sugere um esquecimento das raízes e uma busca confusa por referências do passado. O verso “tudu é agu na balai frádu / é rialidádi di oxindiâ” (tudo é água em cesto furado / é a realidade de hoje) resume a sensação de vazio e falta de substância na sociedade atual. Assim, "Dimokránsa" vai além da crítica política, propondo uma reflexão sobre identidade, memória e os desafios de manter valores autênticos diante das mudanças sociais e políticas.