Maré

Desigualdade e resistência em "Maré" de MC Cabelinho

"Maré", de MC Cabelinho, aborda de forma direta a realidade dos jovens das favelas cariocas, especialmente do Complexo da Maré. O título faz referência tanto ao local quanto à ideia de enfrentar uma correnteza de dificuldades diárias. A expressão "remar contra a maré" é usada como metáfora central, mostrando que lutar contra as adversidades impostas pela vida na favela é quase impossível, e que quem tenta resistir muitas vezes acaba sendo punido ou excluído pela própria comunidade.

A letra traz o peso emocional de quem vive essa rotina, como no verso: "Oh mãe, me perdoe por tá na vida errada... Eu só queria minha carteira assinada, mas não deram essa chance pra mim". MC Cabelinho conecta seu drama pessoal a uma crítica social, mostrando que o envolvimento no crime é resultado da falta de oportunidades e da ausência do Estado, não uma escolha livre. O trecho "O morador me chama de herói, o estado chama de inimigo" destaca a dualidade do traficante, visto como protetor dentro da comunidade, mas criminalizado pelas autoridades. Lançada em meio a manifestações antirracistas, a música reforça a discussão sobre desigualdade, racismo estrutural e violência policial. A fé, repetida ao longo da canção, aparece como último refúgio e forma de resistência diante de uma realidade hostil.