Saudade (parte 2) (part. Borges)

Violência e resistência nas favelas em “Saudade (parte 2) (part. Borges)”

“Saudade (parte 2) (part. Borges)”, de MC Cabelinho, traz um posicionamento político claro ao mencionar diretamente o ex-presidente Jair Bolsonaro e o Estado como alvos de repúdio. Essa postura, pouco comum em muitos hits do rap mainstream, é central na música, que transforma a saudade em símbolo coletivo da dor causada pela violência sistêmica nas favelas. Quando MC Cabelinho canta “o sistema é sujo e covarde / o menor era menor de idade / sonho dele era prosperidade e nada mais”, ele denuncia a perda precoce de jovens, vítimas de um ciclo de exclusão e violência, inspirado por histórias reais de luto nas comunidades periféricas.

A letra adota um tom direto e realista, mostrando a convivência diária com a morte e a desigualdade social: “Desde pequeno, nós tá vendo a morte de perto / Desde pequeno, tô ouvindo a bala comer”. O verso “Aqui no morro, odiamo Bolsonaro / Aqui no morro, odiamos o estado” expressa a insatisfação dos moradores com a política e a repressão policial, reforçando a crítica social da faixa. Ao perguntar “Diz aí quem foi que mandou matar Marielle?”, a música faz referência ao assassinato da vereadora Marielle Franco, símbolo da luta contra a violência de Estado e o racismo, ampliando a crítica para além da experiência pessoal dos artistas. O pedido repetido a Deus para aliviar a dor e a saudade mostra o sentimento de impotência diante das perdas, mas também destaca a união e resistência dos que permanecem: “Sei quem são os meus / E pra confirmar, levanta a mão, neguinho, e fala que é nós”. Assim, a música retrata de forma fiel a dor, a saudade e a luta por respeito e justiça nas favelas brasileiras.