Neurótico [explícita]

Paranoia, fé e ambição em “Neurótico [explícita]” de MC Kako

Em “Neurótico [explícita]”, MC Kako expõe o conflito entre alerta e gratidão. Ao se dizer “Neurótico e abençoado”, ele assume a vigilância como condição de sobrevivência sem abrir mão da fé. A franqueza de “Nem tô pelo dinheiro, mentira” revela a ambição e critica o hype vazio. A rua surge como rito e filtro de pertencimento: “Santa ceia da rua, eu corto o pão / Pedacin’ pra quem é, pra você não”, sob “lei do cão” e “peça na cintura”. A máxima “Medo eu só tenho de quem me protege” aponta a desconfiança em relação a polícia/segurança e aos próprios próximos, de onde costuma vir a traição. O corre é metódico: “deixa o ponteiro bater” joga com tempo e velocímetro, enquanto ele segue “empilhando notas” sem glamurizar o caminho.

Há tensão entre ostentar e enxergar as armadilhas do materialismo. As cenas de excesso — “Bebezinha do TikTok… MD no Ziploc… gasta um malote no shopping” — e a mistura de sexo e arma em “sarra a buceta na Glock” evidenciam risco mascarado de diversão e hype. Em contrapartida, pesam lealdade, perda e fé: “Contabiliza e depois divide”, “Saudade dos que não tá por aqui / Vida breve” e a resiliência de “Parcelei o café da manhã, pra amanhã pagar o banquete à vista”. Ele questiona credencial falsa em “Dizem ser cria, criado com Nan” e valoriza “quem comigo passou sede…”. O objetivo é comemorar “lá na frente, fedendo a dinheiro”, sem se vender: “Cês é o hype, nós é o bicho… nunca fui acostumado a isso”. Gratidão guia o foco — “Se a família tá legal, amém” — enquanto “tô mirando o céu” e “eu não posso parar” funcionam como mantra.