FOD4SS3

Dor e resistência diante do abandono em “FOD4SS3”

Em “FOD4SS3”, MC Kautry utiliza a repetição do termo "foda-se" como um grito de resistência e resposta à negligência que enfrentou tanto da família quanto do sistema. A música deixa claro que sua postura agressiva e isolada não é uma escolha simples, mas sim consequência direta das circunstâncias impostas por um ambiente hostil e pela falta de apoio. Quando afirma: “Eu sou um monstro pro sistema, eu sou um monstro pra minha família, eu sou um monstro pra mim mesmo”, MC Kautry revela o peso do julgamento externo e interno, mostrando como a marginalização e o preconceito moldaram sua identidade e autoestima.

A letra aborda de forma direta as dificuldades vividas, como a fome, o encarceramento e a ausência de afeto materno, experiências comuns a muitos jovens das periferias. Versos como “No fundo da viela eu vendo droga mesmo, mãe” e “Eu roubo mesmo e ponto” não buscam glamourizar o crime, mas sim expor como essas escolhas surgem da falta de oportunidades e de relações familiares marcadas por rejeição. O artista também critica a hipocrisia e o abandono dos parentes, como em “Meu tio é outro sonso, meu pai morreu faz anos... As minhas tias velhas sempre me quis na Febem”. Ao final, “FOD4SS3” se consolida como um desabafo cru, onde a raiva e a resignação se misturam, e a sobrevivência se torna um ato de resistência diante de um mundo que insiste em excluir.