Tomara (remix) (part. Davi Sabbag)

Prazer político em “Tomara (remix) (part. Davi Sabbag)”

Por trás da fala sexual direta, “Tomara (remix) (part. Davi Sabbag)” é um manifesto de imaginação erótica e autonomia do corpo. Linn da Quebrada usa o pajubá — eixo de seu álbum de estreia, “Pajubá” — para politizar o prazer. Ao perguntar “de que me adianta a neca ser mati ou odara?”, desmonta a fixação na performance do pênis e nos atributos “valorizados” do macho: o que vale é conexão e cuidado. O início — “Aprendi a amar nos cantos...” — expõe um histórico de sexo apressado, precarizado e sem afeto; “palavras tortas” que “nasceram mortas” sinalizam cansaço com conversa vazia. Daí a regra do refrão: “que no rala e rola tenha muito mais que só entra e sai vara”, recusa do ato mecânico e pedido por técnica, atenção e criatividade.

A letra vira manual de prazer e corte no machismo. Versos como “uma lambida no zóinho”, “carinho com a boca no mamilo” e “vai mordendo o corpo inteiro” estruturam a defesa das preliminares e da reciprocidade. Os trocadilhos afiam a crítica: “Troquei os paus pelas mãos” desloca a centralidade do falo para o toque; “aqui o buraco num é pra macho” impõe limite e reverte hierarquias; “serpente” e “linguinha” brincam com o símbolo fálico, mas colocam o jogo sob o comando de quem exige ser bem tratada. Quando Linn dispara “Passa, boy! Passa boiada... três posições, estão prontos pra gozar”, ela ironiza a preguiça sexual moldada pelo roteiro pornô: tesão sem atenção vira frustração — e frustração vira exigência de respeito ao corpo e ao tempo do prazer.

No remix de “PAJUBÁ REMIX II”, a parceria com Davi Sabbag e o clipe sensual-futurista de estética Seapunk reforçam liberdade e celebração da diversidade sexual e de gênero. A química em cena acentua o flerte, o humor e a pedagogia do corpo. Mais que recalibrar a pista, o remix amplia a tese de “Pajubá”: prazer é político, não cabe em papel de gênero estreito e só vale com presença, cuidado e invenção.