Proibido Legalizar

Realidade periférica e ironia social em “Proibido Legalizar”

A música “Proibido Legalizar”, de MC Lon, utiliza uma linguagem direta para retratar o cotidiano da periferia, colocando o consumo de maconha e a vivência à margem da lei como temas centrais. Termos como “purehemp” (papel de seda para enrolar maconha) e frases como “fuma uma cota, fica brisadão” ilustram não só o dia a dia do artista, mas também de muitos jovens das comunidades, funcionando como uma crônica sobre a normalização do uso de drogas em ambientes marcados pela marginalização. O título carrega ironia: ao mesmo tempo em que faz referência à proibição da maconha, sugere que, para quem já vive na ilegalidade, a legalização parece algo distante ou até contraditório.

A letra também expõe a entrada precoce no crime, como em “ganhei um lindo presente uma pistola cromada com quinze bala no pente” e “ja cai pro 157”, mostrando como armas e delitos se tornam parte da rotina de jovens periféricos. O verso “Ou vira cabeleleiro, canta funk ou ser ladrão” evidencia a falta de opções profissionais e a pressão social enfrentada por quem cresce nessas áreas. O tom descontraído e a linguagem de rua reforçam a autenticidade do relato, enquanto a repetição de frases como “desde quando era menor que eu ficava boladão” destaca como essas experiências moldam a identidade do artista. A prisão de MC Lon por porte ilegal de arma, em 2019, reforça a conexão entre a realidade descrita na música e a vida real, mostrando como a fronteira entre ficção e cotidiano é tênue para muitos jovens retratados no funk paulista.