Automotivo Solitude (part. DJ Duck)

“Automotivo Solitude (part. DJ Duck)” entre pista e vazio

“Automotivo Solitude (part. DJ Duck)” explora a tensão entre euforia de pista e solidão. O título já sugere uma viagem solitária ao som dos graves do automotivo, enquanto as falas em inglês expõem vulnerabilidade: “Just a little lonely…” (Só um pouco sozinho…) e “Just give me one more time, I wanna try and be here forever” (Me dá mais uma chance, quero tentar e ficar aqui para sempre). Nelas, aparece o desejo de permanência em meio ao fluxo rápido do baile, como se a batida não bastasse para preencher a carência afetiva.

Em contraste, os versos em português são corporais e diretos. “Vem colocando, colocando tudo em mim” aponta para fome de presença, que tanto pode ser sexual quanto um pedido por entrega e atenção total. A imagem “de mochila nas costas, passando de radinho” reforça o retrato de alguém em trânsito, protegido pela própria trilha sonora, circulando sozinho no tumulto — uma solidão em movimento que dialoga com o título.

A forma típica do funk automotivo também constrói sentido. O bordão “Esse é o DJ Duck porra” crava a identidade da faixa e acende o clima de pista; a repetição hipnótica de “vem, vem, vem” e “colocando” funciona como mantra que transforma desejo em pulso físico. Ao mesclar português e inglês, Mc Morena e DJ Duck marcam dois registros: autoconfiança sensual no convite em português e confissão vulnerável no inglês. O duplo sentido de “colocando tudo em mim” abrange corpo, presença, tempo e cuidado, enquanto o recado é claro: há vontade de ficar junto para além da madrugada, mesmo quando a cidade empurra tudo para o efêmero.