É o Complexo da Penha, Só Moleque Tiroteio

Retrato da violência e identidade em “É o Complexo da Penha, Só Moleque Tiroteio”

A música “É o Complexo da Penha, Só Moleque Tiroteio”, de MC Orelha, apresenta de forma direta a rotina de violência e resistência no Complexo da Penha, uma das áreas mais afetadas por confrontos armados no Rio de Janeiro. A letra destaca personagens como Ratinho, Rodriguinho, Marreta e Faustão, que representam tanto pessoas reais quanto funções dentro da hierarquia do tráfico. Esses apelidos, comuns nas favelas, reforçam a identidade coletiva do grupo e, ao mesmo tempo, individualizam os envolvidos, mostrando que cada um tem seu papel na dinâmica local.

A narrativa traz descrições de tiroteios, operações policiais e a tensão constante entre traficantes e forças de segurança, como nos versos “Descarregou o G3, furou cinco viatura” e “Tanta bala no blindado, que fez eles recuar”. O uso de termos como “vapor” (quem vende drogas) e a menção a armas específicas (G3, AR, AK, FAP, 762) dão autenticidade ao relato, evidenciando a vivência do artista nesse contexto. O trecho “Respeita o bonde da Penha, aqui só moleque de Gaza” compara a Penha à Faixa de Gaza, sugerindo que a violência local é tão intensa quanto a de zonas de guerra. Apesar do tom descritivo e, em alguns momentos, de celebração da resistência dos jovens, a música não faz apologia ao crime, mas sim denuncia a realidade dura e a dinâmica do crime organizado, funcionando como um retrato social das condições enfrentadas pelos moradores da comunidade.