44 Problems

Superação e identidade periférica em “44 Problems” de Xamã

Em “44 Problems”, Xamã utiliza o título para ir além da referência ao calibre .44, simbolizando os inúmeros desafios e perigos enfrentados por quem vive nas periferias do Rio de Janeiro, especialmente na Zona Oeste, como Campo Grande e Vila Carioca, citadas na letra. As metáforas de violência urbana, como “munições calibre 44” e “nossa caneta é raspada, tinta de fuzil AK”, mostram como sobrevivência e criatividade se misturam em um ambiente hostil, onde a arte se torna uma arma tão poderosa quanto qualquer revólver.

Xamã e Major RD entrelaçam suas histórias pessoais com referências culturais e cinematográficas, como “Darth Vader”, “Anakin” e “Bruce Willis” (de “Duro de Matar”), para ilustrar resiliência e adaptação diante das adversidades. Ao se compararem a personagens de ação e anti-heróis, os artistas reforçam a necessidade de serem “duros de matar” para superar estigmas, violência e marginalização. O verso “produtor, ex-vendedor de Mary Jane Madalena” revela a transição de Xamã do tráfico para a música, mostrando que o passado difícil faz parte da identidade, mas não limita o futuro. Major RD destaca a ascensão social e o orgulho ao dizer “vendedor de rimas, as conta paga e minha mãe toda boba”, evidenciando o sucesso artístico como forma de redenção. A música ainda brinca com duplos sentidos, como em “nossa gangue é a mais sinistra que você já ouviu falar”, onde “gangue” pode ser tanto a equipe musical quanto uma referência à vida nas ruas. O tom direto, com gírias e expressões locais, aproxima a narrativa do cotidiano das comunidades e exalta a força e a reinvenção dos artistas diante de seus muitos problemas.