GTA (part. GTA)

Violência e sobrevivência urbana em “GTA (part. GTA)” de Xamã

Em “GTA (part. GTA)”, Xamã utiliza a contagem regressiva logo no início da música como um recurso que vai além do estilo: ela sintetiza a tensão e o cotidiano violento das periferias do Rio de Janeiro. Cada número citado, como em “dez mandamentos, nove milímetros, oito radin na frequência global”, carrega um significado real, reforçando a sensação de urgência e perigo constante. Essa estrutura conecta a vida nas ruas à adrenalina do jogo GTA, onde a linha entre sobrevivência e criminalidade é tênue. A referência ao universo de “Grand Theft Auto” não é apenas estética; Xamã usa o jogo para mostrar como a ficção se mistura à realidade das favelas, onde violência, fuga da polícia e busca por respeito fazem parte do dia a dia.

A letra traz imagens cruas e gírias locais para expressar a resistência e a identidade de quem vive à margem, como em “inimigo do estado, amigo do morador” e “quem peitou morreu”. O tom direto e urbano aparece também nos versos que falam do desejo de ascensão social e da dureza da rotina: “Vou juntar mó malotão igual o Major / Comprar um cavalo, viver numa fazenda só / Fumando baseado, sem luxo”. Já o trecho “A todos somos dois assaltantes / Um Basquiat e um Di Cavalcante” compara a criatividade e ousadia dos artistas de rua com grandes nomes das artes plásticas, sugerindo que, mesmo na criminalidade, há arte, estratégia e sobrevivência. O flow ágil e as rimas afiadas reforçam a autenticidade da narrativa, tornando “GTA” um retrato intenso e multifacetado da vida nas periferias, onde a linha entre o bem e o mal é constantemente questionada.