Romeu Tem Que Morrer

Violência e resistência urbana em “Romeu Tem Que Morrer”

Em “Romeu Tem Que Morrer”, Xamã subverte o clássico personagem romântico ao transformar Romeu em alguém que precisa ser eliminado para manter a ordem do gueto. O título faz referência ao filme homônimo, que adapta Shakespeare para o universo das gangues, reforçando o clima de confronto, sobrevivência e disputa por poder. A letra é marcada por agressividade e ironia, como nos versos “Solta os Rottweiler, os Pit, solta os Bull Terrier / Chama toda sua banca que nós mostra pra você / Quem comanda essa porra”, deixando claro que respeito é conquistado à força e que traição não é tolerada nesse ambiente.

Xamã conecta a luta urbana à cultura popular brasileira ao citar Lampião e Nossa Senhora, trazendo elementos de resistência e fé para o cotidiano violento: “O mesmo Sol que seca a água também brilha no cangaço”. O trecho “Anteontem eu vi uns cara de Corolla / Com pistolão cromado... / Deu dois tirão pro alto / Um pegou em Nossa Senhora” mistura o sagrado e o profano, mostrando como a violência atinge até símbolos de proteção. A música também critica a hipocrisia e a inveja, como em “Aperta nossa mão e depois sai aí falando / Cê não é porra nenhuma, sabe nada desse mundo”, e questiona o papel de cada um: “Gângster ou hamster, qual se tornará?”, sugerindo que, nesse cenário, só sobrevive quem se impõe. O refrão “É meu refrão apaixonado pra você / Pra sua informação, Romeu tem que morrer” ironiza a ideia de amor e redenção, reforçando que, nesse contexto, sobreviver é prioridade.