Hijo de La Luna

Tragédia e crítica social em "Hijo de La Luna"

"Hijo de La Luna", do Mecano (ES), transforma uma lenda cigana em uma narrativa marcante sobre desejo, sacrifício e violência de gênero, tudo envolto em um clima de conto popular. A história começa com uma mulher cigana que faz um pacto com a Lua: ela oferece seu primeiro filho em troca do amor de um homem. Esse acordo revela a intensidade do desejo e da solidão, mostrando que certos sonhos podem ter consequências trágicas. A Lua, retratada como uma figura feminina que deseja ser mãe, mas não encontra "querer que te haga mujer" (alguém que te faça mulher), simboliza tanto a maternidade frustrada quanto a busca por completude, criando uma metáfora sobre carências e trocas impossíveis.

A letra narra o desenrolar da tragédia: o nascimento de um filho albino, "blanco como el lomo de un armiño" (branco como o dorso de uma doninha), desperta a desconfiança do marido, que associa a aparência do bebê à infidelidade. Isso leva ao assassinato da esposa e ao abandono da criança, como descrito em "Gitano, al creerse deshonrado / Se fue a su mujer, cuchillo en mano" (Cigano, ao se sentir desonrado / Foi até sua mulher, faca em punho). Esse trecho é frequentemente interpretado como uma denúncia do feminicídio, destacando a violência sofrida por mulheres em contextos de honra e preconceito. No final, a Lua acolhe o menino e passa a protegê-lo, reforçando o tom melancólico e mágico da canção, ao mesmo tempo em que sugere que, diante da rejeição e da tragédia humana, resta apenas o consolo do mito e da natureza. A música utiliza a lenda para discutir temas universais de amor, perda e violência, mantendo uma crítica social clara e sensível.